“A caravana”, de Heleine Fernandes, propõe uma pesquisa a partir de caminhos que se misturam: os múltiplos sentidos atrelados aos dentes e o efeito das palavras “melindrosas e escorregadias”, capazes de fazer “a morte dançar”. Os versos também mostram as gradações de prazer, força e vitalidade encontradas no amor e no erotismo: “acordei feliz/ porque a sua pele é macia/ abriu dia claro/ e nada termina”. Por meio dos poemas e das imagens fotográficas, Heleine cria vetores de afetos que giram em torno do que podem os dentes. No texto sobre a produção das imagens ao fim do livro, ela conta que se deparou com uma “soltura brincalhona e insubmissa” quando perguntou às pessoas próximas, amigas, se podia fotografar seus dentes. “A caravana” segue, página após página, como “uma farda estratégica/ para os dias de chumbo” ou corpo que se movimenta como o mar, convidando-nos a vestir uma “pele de escamas grandes e brilhantes”.